Gotas

(Estranho:
Tu, que vens de uma ilha
Povoada por sonhos
Não te deixes conquistar
Pela indiferença pacata
Dos nossos dias de solidão e desatino.)
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A água corre, corre a lágrima,
Desliza pela alma.
Até aos pés.
Na janela, as gotas de chuva
Perseguem-se, em corridas eternas
Pela maior fugacidade.
As suas sombras, como fantasmas,
Correm pelo meu rosto,
Brotam dos olhos gastos.
Oiço o gotejar persistente
De uma qualquer torneira esquecida,
Que perfura o silêncio
De segundo a segundo,
Como uma lâmina, ou uma dissonância ácida
De uma quarta aumentada.
As suas quedas sucessivas
Ressoam, ecoam infinitamente em mim.
Enchem-me do vazio
Que me trazem os espaços silenciosos
Da sua propagação.
Só eu, intemporal, inafectada
As lágrimas rolam pela minha face,
Não as consigo parar.
Nem as censuro.